Fura-bucho-do-atlântico

Fura-bucho-do-atlântico

Espécie Marinha

Procellariidae

Puffinus puffinus

Manx Shearwater

Fenologia no ContinenteMigrador de passagem

Fenologia na MadeiraEstival reprodutor e migrador de passagem

Fenologia nos AçoresEstival reprodutor e migrador de passagem

Frequência de ocorrência

Continente

Madeira

Açores

Distribuição, movimentos e fenologia

Esta espécie nidifica no Atlântico Norte, maioritariamente no Reino Unido e na Irlanda, com pequenas colónias no Canadá, nos Estados Unidos, na Islândia, em Espanha e em Portugal[4]. No nosso país reproduz-se na ilha da Madeira[12][13] e nas ilhas das Flores e do Corvo (Açores), não tendo sido possível confirmar a sua reprodução noutros locais deste último arquipélago, onde deverá também nidificar[8][11][1]. O fura-bucho-do-atlântico é frequente nas águas portuguesas durante a migração pós-nupcial, em especial desde meados de agosto até meados de outubro[14][15][3], devido ao facto de uma parte importante do contingente das Ilhas Britânicas passar pela nossa ZEE, em direção às suas áreas de invernada localizadas ao largo da América do Sul[6]. Em grande parte das águas açorianas, ocorre sobretudo durante ambos os períodos migratórios. Na Madeira, observa-se praticamente durante todo o ano, sendo que de meados de janeiro até finais de junho ou princípios de julho está presente a população nidificante[9] e, no verão e no outono, estão presentes os migradores de passagem.

Abundância e evolução populacional

Não existe praticamente informação sobre a abundância desta espécie para o Continente, apesar da regularidade da sua ocorrência, em maior número durante o mês de setembro[3]. Existem evidências de que há vários séculos atrás a espécie terá sido muito mais numerosa nos Açores[7]. As estimativas atuais da população reprodutora nos arquipélagos resultaram da contagem de jangadas em torno das colónias, método com elevado grau de incerteza. Nos Açores, foram identificadas 12 colónias nas ilhas do Corvo e das Flores, com uma estimativa de 115 a 235 casais reprodutores[7]. Na Madeira, não existem estimativas fiáveis da população nidificante[5], tendo a mesma sido avaliada em vários milhares de indivíduos[12]. É provável que todos os anos, durante a migração, passem por esta ilha muitos milhares de fura-buchos[15].

Ecologia e habitat

É uma espécie de hábitos pelágicos, podendo contudo ocorrer próximo da costa, assim como em águas mais profundas ao largo. Na sua dieta incluem-se peixes, cefalópodes e crustáceos, bem como desperdícios da pesca[4]. Na Madeira, nidifica em falésias no interior da ilha, acima dos 500 metros de altitude, em zonas de floresta nativa com pouca rocha nua e boa cobertura arbustiva[9]. No Corvo e nas Flores, as colónias localizam-se em falésias íngremes e pouco acessíveis[8]. Nesta primeira ilha, a reprodução parece ocorrer cerca de dois meses mais tarde do que na Madeira[16].

Ameaças e conservação

Em Portugal, num passado já remoto, esta espécie sofreu uma forte redução nas suas colónias de reprodução como resultado da introdução de predadores terrestres e da captura direta para exploração de óleo, de carne e de penas[8][10]. Atualmente o fator de ameaça mais importante continua a ser a presença de predadores introduzidos nas áreas de reprodução[2][8].

Referências

  1. Bried J, Geraldes P & Paiva VH (2007). First attempted breeding of Manx Shearwater (Puffinus puffinus Brünnich, 1764) on Santa Maria, Azores. Arquipélago. Life and Marine Sciences 24: 61-63

  2. Câmara D (1997). Guia de Campo das Aves do Parque Ecológico e do Arquipélago da Madeira. Associação dos Amigos do Parque Ecológico, Funchal

  3. Catry P, Costa H, Elias G & Matias R (2010a). Aves de Portugal, Ornitologia do Território Continental. Assírio e Alvim, Lisboa

  4. del Hoyo J, Elliott A & Sargatal J (eds.) (1992). Handbook of the birds of the world. Vol. 1. Lynx Edicions, Barcelona, Spain

  5. Equipa Atlas (2008). Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (1999-2005). Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Parque Natural da Madeira e Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Assírio & Alvim, Lisboa

  6. Guilford, T, Meade J, Willis J, Phillips R A, Roberts S, Collett T, Freeman R & Perrins CM (2009). Migration and stopover in a small pelagic seabird, the Manx Shearwater Puffinus puffinus: insights from machine learning. Proceedings of the Royal Society B 276: 1215-1223

  7. Monteiro LR , Ramos JA & Furness RW (1996a). Past and Present status and conservation of the seabirds breeding in the Azores. Biological Conservation 78: 319-328

  8. Monteiro LR , Ramos JA, Pereira JC, Monteiro PR, Feio RS , Thompson DR , Bearshop S, Furness RW, Laranjo M, Hilton G, Neves VC, Groz MP & Thompson KR (1999). Status and distribution of Fea’s Petrel, Bulwer’s Petrel, Manx Shearwater, Little Shearwater and Band-rumped Storm-Petrel in the Azores Archipelago. Waterbirds 22(3): 358-366

  9. Nunes J, Nunes M, Fagundes AI & Valkenburg T (2010). Contributo para a conservação do Fura-bucho-do-Atlântico Puffinus puffinus, uma espécie ameaçada na ilha da Madeira. Airo 20: 12-21

  10. Oliveira P (1999). A conservação e gestão das aves do arquipélago da Madeira. Parque Natural da Madeira

  11. Pitta-Groz M, Monteiro LR , Pereira JC, Silva AG & Ramos JA (2005). Conservation of Puffinus species in the Azores. Airo 15: 11-17

  12. Santos C (2001). Censo de Patagarro Puffinus puffinus no Arquipélago da Madeira. Relatório não publicado. SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Funchal, Madeira, Portugal

  13. Equipa Atlas (2013). Atlas das Aves do Arquipélago da Madeira.

  14. Birding Azores (2014). Birding Azores database.

  15. Birding Madeira (2014). Trip reports.

  16. Hervías S, Henriques A, Oliveira N, Pipa T, Cowen H, Ramos J A, Nogales M, Geraldes P, Silva C, Ybáñez RR & Oppel S (2013). Studying the effects of multiple invasive mammals on Cory’s shearwater nest survival. Biological Invasions 15: 143-155